12/04/2015

Parkinson

Como este mês se assinala o dia do Doente de Parkinson, e, como a minha mãe sofre desse problema, decidi partilhar algumas coisas, baseadas apenas no que vivo, não tenho conhecimentos de medicina.

A minha mãe adoeceu com 60 anos, mais coisa menos coisa. Era uma mulher relativamente nova, activa, inteligente, faladora, simpática, de rosto sempre sorridente. De repente começou a ficar estranha, deprimida, com o rosto carregado, não falava muito. Foi 2 vezes ao médico e ele, das duas vezes, disse-lhe que ela estava apenas deprimida e receitou-lhe anti depressivos. Estávamos em Julho, estava calor, e eu não percebia o que se passava com ela e porque é que não melhorava com os anti depressivos. Cada dia estava mais parada, mais lenta, mais apática.  Marquei-lhe uma consulta no neurologista, ela por acaso, foi sozinha. Ouvi-a entrar em casa, de volta, levantei-me e fui perguntar-lhe o que é que ele tinha dito. Não era a primeira vez que ouvia a palavra Parkinson, mas foi uma sensação terrível, que não consigo descrever. Nesses dias vim para a net e li tudo o que havia sobre a doença. Alzheimer e Parkinson são aquelas palavras que mais receamos, mas tive boas notícias. O Parkinson, embora afecte um pouco a memória, é menos "agressivo" e as pessoas continuam a "funcionar". Depois aprendi que há 2 tipos de Parkinson, aquele que todos os velhotes têm, que se caracteriza por tremores nos membros, fala mais arrastada, dificuldade de locomoção e o outro tipo, o que afecta pessoas mais novas, e que é pior. A minha mãe tinha tudo. Rigidez muscular, apatia, funciona em bloco, ou seja não é capaz de virar somente a cabeça, tem que virar o corpo todo. Nunca tremeu, mas caiu algumas vezes e numa dessas vezes, partiu um pé. O médico, avisou-me para tirar todos os tapetes e carpetes da casa, mas não o fiz, não quis nunca que a minha mãe sentisse que tinha que adaptar a casa e sempre que caiu, foi na rua, nunca em casa. Depois, felizmente, há medicação, coisa que não acontecia há 50 anos ou coisa parecida. A medicação ajuda,  quando ela a começou a tomar, não parecia que tinha Parkinson! Voltou a sorrir! Voltou a fazer a vida normal! Com a idade tem piorado bastante, tem os olhos fechados muitas vezes, dorme muito tempo, não consegue fazer a maior parte das coisas, vive um bocadinho alheada da realidade, porque ficou surda. Cumpre as tarefas com dificuldade e para isso é que eu estou cá, para a ajudar. É incapaz de realizar uma tarefa a que se propôs na véspera, ou porque se esquece, ou porque dorme demais, ou porque o corpo já não é o que era, afinal já passaram 16 anos. Mas, às vezes, ainda faz almoços e jantares bastante saborosos. ainda vê a novela com muita atenção, ainda me vai levar o pequeno almoço à cama, ainda vamos de férias e se pôe em bikini na piscina, ainda vai comigo sempre que vou ao médico a Lisboa.

Viver com uma pessoa que tem Parkinson, não é fácil, mas também não é impossivel, aliás, somos nós que temos que os ajudar. Às vezes digo que não sei fazer algo, para ela ter que fazer, "obrigo-a" a pensar,  tento falar com ela,  compro-lhe revistas que gosta, tento que ela se esqueça da doença. Nem sempre consigo, nem sempre tenho sucesso, eu e ela às vezes disparatamos, até porque temos feitios muito diferentes, mas amo-a loucamente.

4 comentários:

  1. Gostei muito de ler o post e tenho pena que a tua mãe tenha Parkinson. A única coisa que te posso desejar é muita força para a apoiares naquilo que ela precisar! :)
    Beijinhos

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    1. Obrigada Andy, eu sei que isso é verdade. Beijinho grande :)

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  2. Caíram-me lágrimas pela cara...sei bem do que falas, desse amor incondicional por alguém que queremos proteger a todo o custo, por quem faríamos qualquer coisa para aliviarmos o seu sofrimento... , e apenas um sorriso é quanto basta para sentirmos que estamos no caminhos certo, que depois dos dias maus virão sempre dias bons... A minha luta não é com Parkinson, é com o Autismo. Um grande beijo para ti e para a tua mãe.

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    1. Querida Carla, realmente é duro, muito duro, ver uma pessoa de que tanto gostamos ir perdendo as capacidades, mas pouco podemos fazer, a não ser aceitar e fazer o que estiver ao nosso alcance para ajudar. Do Autismo pouco conheço, mas imagino que deve ser outra luta enorme. Deus dá sempre fardos grandes a quem os pode carregar, que é o nosso caso. Beijinho enorme :)

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