01/10/2014

Sou alentejana e daí?

Sim, nasci no alentejo, o que faz de mim alentejana, de gema. E saí de lá com 5 anos, que saí. E se ao princípio, na escola os meninos não percebiam o que eu dizia e me chamavam estrangeira, que chamavam, era porque realmente eu tinha uma pronúncia cerrada, do mais alentejana que pode ser, quase imperceptível para miúdos de 6 anos. Mas, quando somos crianças, com uma facilidade tremenda se muda e portanto, essa característica desapareceu em 2 ou 3 meses. O que não desapareceu até hoje, foi a mania que as pessoas têm de que todo e qualquer alentejano é comunista. A sério, durante toda a minha vida este foi um estigma aborrecido, do qual não me consegui livrar, principalmente com as pessoas da minha geração e gerações mais velhas. Sim, no alentejo há muitos comunistas, toda a gente sabe, mas que toda a gente tenha que ser comunista, é que não consigo entender. Além do mais, não pertenço a nenhuma família do proletariado, é tudo malta trabalhadora, mas não sou do campo nem nada que o valha. Para ser uma comunista rica, gaja que é realmente comunista, mas que finge que não é, foi um passo, passei a ser a comunista que não diz-que-é, mas-é. E isto sempre me fez uma confusão enorme, a sério. Não que me incomode, não que me persiga, é um assunto ao qual não dou importância, até porque cada um é do que quer, mas é tão chato que me conotem sempre com o comunismo. Para melhorar a situação e penso que foi uma questão de defesa misturada com gozo, o meu pai nunca afirmou ser do partido A ou B, até hoje não sei de que partido ele foi, e portanto, isso ainda irritava mais as pessoas. E tenho na família pessoas com cargos altos, que mudaram do partido comunista para outros partidos, para estarem onde estão. "São alentejanos, e comunistas, mas não assumem", era o que se dizia, nas nossas costas. Isto tudo, não para dizer de que partido sou, ninguém tem nada com isso, mas para dizer que, por acaso, não sou comunista. E os que, toda a vida viveram em suspenso, podem descansar. Realmente, não sou. Podia ser, que podia, oh se podia. Se calhar até devia. Mas não sou.

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