20/11/2013

Lisboa

Nunca gostei de viver na província, nunca. Nasci no alentejo, mas saí de lá pequena, e andei por aí. Mas sempre quis ir para Lisboa, não sei explicar porquê. Foi uma ideia fixa, a qual persegui furiosamente. Morei em várias cidades, mas o que me importava era aproximar da capital, e realmente, quando tinha 19 anos, lá me mudei para Lisboa. Só aí o meu coração sossegou e estava finalmente onde queria e onde me sentia bem. As pessoas e os lugares da província não me interessam nada, nunca interessaram. Uma vez em Lisboa, fui viver no bairro onde o meu pai tinha vivido, Campo de Ourique. Era um bairro espectacular, na altura com lojas, cafés, bancos, lugares que parecia serem meus, parecia conhecer, onde me sentia muito bem. Fiz muitos amigos, estudava na Lapa, era feliz, muito feliz. A vida em Lisboa é diferente, mais rápida, as amizades são diferentes, as pessoas são bastante diferentes que as pessoas da provincia. Não é que sejam melhores nem piores, são diferentes. Podemos andar na rua sem sermos conhecidos, podemos ir a sítios muito bons, ou podemos simplesmente ir passear ao jardim da estrela. É apenas connosco. Não tempos que fazer algo, só porque sim. Ou deixar de fazer. As pessoas são mais tolerantes, bem dispostas, e acima de tudo, damo-nos só com quem queremos. Na Provincia é diferente, porque não podemos escolher, não há muita escolha. Ao fim de 2 anos lá, o meu pai morre de repente. E fiquei eu e a minha mãe, sozinhas, com a familia no alentejo. E foi aí que começou o drama. Durante 2 ou 3 anos a minha mãe todos os dias se queixava, que não gostava daquela casa, que não gostava daquela cidade, que não tinha ali familia (embora tivesse uma prima), que eu ali não conseguia arranjar trabalho. Foram 3 anos consecutivos de massacre. "Isto não é a tua terra, eu não gosto e viver aqui, isto não faz sentido" Ao fim de 3 anos, eu cedi. Não aguentava mais ouvi-la, não aguentava mais viver assim. Facilmente vendi aquela casa e fomos para o alentejo. Durante a viagem, diz-me ela, de lágrimas nos olhos : " Um dia havemos de voltar, estou tão arrependida de me ir embora".
 E eu nunca lhe consegui perdoar e duvido que algum dia o faça, ter-me obrigado a mudar de terra, a vender uma casa que hoje valia uma fortuna, a deixar os meus amigos, a deixar os meus sítios. Eu ainda não tinha 30 anos, era uma miúda, mas algo se partiu ali, algo em mim, morreu.
Chegada ao alentejo, tive uma depressão brutal. Lembro-me que não tinha onde ir ao fim de semana, lembro-me que ninguém percebia o que eu dizia, lembro-me que achava as pessoas tão estranhas. Lembro-me de pegar no carro, ainda sem ter carta e ir para aldeias ali perto, na ânsia de sair de casa, chorar.
Até que um dia, achei que não merecia nada daquilo. E decidi vir embora, não para Lisboa, porque não tive dinheiro para comprar uma casa, mas para mais perto de Lisboa.
Não é fácil ouvir a minha mãe, desde há 23 anos, dizer que a cidade que mais gosta é de Lisboa, quando foi ela que sempre se quis vir embora. Não é nada fácil para mim viver na província.Não me perguntem porquê, mas não é. Detesto com todas as minhas forças, mas sei que Lisboa está perto, 1 hora e pouco de caminho e estou lá. Faço uma vida muito caseira, não tenho amigos aqui, na província as pessoas não vão à casa umas das outras, não convivem. Há pouco trânsito, não há barulho à noite. Mas tenho uma casa boa, quentinha, e tento todos dos dias ser feliz. É isso que conta.

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