06/03/2013

Coisas da Vida

Hoje tenho que botar faladura, ou corro o risco de morrer sufocada. Ontem lá fui eu laurear a pevide para o Hospital de Santa Maria, que é um local que, como diria alguém, me encanita. Mexe-me com os nervos, revolve-me as entranhas e tolda-me, deveras, os sentidos. Mas estava eu calmamente (com os nervos em franja) a jogar no telemóvel, à espera de ser consultada, quando a senhora do lado mete conversa. Eu, que normalmente não tenho ninguém com quem conversar, tirando as vítimas do costume  (a mãe e o meu homem), comecei a responder à conversa. A doente era a filha, que deveria ter uns 18, 19 anos, tão franzina, mas tão bonita, e curiosamente, ia para a mesma consulta que eu. Estavam de mão dada e  fomos desenvolvendo um diálogo, típico entre as pessoas" doentes", que é explicar as nossas doenças e os comprimidos que tomamos ou não tomamos. Aquela coisa típica de hospital. Aquela conversa que depois de a minha mãe se sentar ao meu lado, fez com que em vez de sermos 50 na sala de espera, fossemos apenas 4. Fiquei a saber que a menina já fez 2 transplantes renais. E que se o primeiro não funcionou, o segundo também não o fez. O segundo foi o rim da mãe, que tirou um dos seus, para lhe dar, para que ela pudesse viver. E que já teve 3 pneumonias graves. E que está muitas vezes internada e que por isso, não pode estudar, nem trabalhar, que a única coisa que a distrai é o computador e fazer tapetes de arraiolos, que faz juntamente com a mãe. E que, apesar de tudo, é ela que vai a conduzir para a hemodíálise, onde não é muito bem tratada pelos outros doentes, porque se despacha mais cedo que eles. Recuei imeditamente aos meus 20 anos. Às farras com os amigos, à faculdade, às noitadas, ao sonhos. E  à medida que a conversa avançava, foi-se formando na minha garganta um nó, um nó insustentável, que só atenuou quando me fechei na casa de banho a chorar. Depois ela foi chamada para a consulta e no fim veio-me dizer que está pior. Que não sabem o que tem, mas está pior. Desejei-lhe muita sorte, e ela fez-me o mesmo. E depois disto o que mais importava? A mim, nada. Fiz o que tinha a fazer e vim-me embora, a pensar que Deus é tremendamente injusto, às vezes. Ou então tem outros planos para nós. Ou então nem sei, e acho que nem quero saber, porque nunca irei entender. E que realmente a vida continua, mas ficou ali qualquer coisa minha, não sei precisar o quê, talvez um bocadinho de coração, naqueles bancos de hospital.
Adiante, que isto é um blog sobre coisas boas da vida...

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